O Tempo em Suas Mãos: A Nova Sociabilidade Mediada pela Tecnologia

TECNOLOGIA

Aldeia Sociológica

10/25/20222 min ler

Os smartwatches se tornaram símbolos da modernidade e da busca por eficiência no cotidiano. Mas por trás da praticidade e conectividade, escondem-se questões sociológicas profundas sobre vigilância, autocontrole, produtividade e identidade. Neste post, refletimos como o uso dessas tecnologias transforma a forma como vivemos, nos relacionamos e percebemos o tempo — e o que isso revela sobre a sociedade contemporânea.

Vivemos em uma era em que o tempo se tornou um bem escasso. A busca por produtividade, performance e controle total sobre a rotina transformou o relógio em um símbolo de status. Mas não mais aquele relógio clássico de ponteiros — e sim os modernos smartwatches, que fazem muito mais do que marcar as horas. Eles monitoram nosso sono, medem nossos passos, avisam de compromissos, indicam batimentos cardíacos e até sugerem quando devemos respirar.

A sociologia contemporânea, sobretudo os estudos de Michel Foucault e Gilles Deleuze, nos ajuda a compreender esse fenômeno como uma transição da sociedade disciplinar para a sociedade de controle. Se antes o poder se manifestava em instituições fechadas como escolas e fábricas, hoje ele se infiltra no cotidiano, de forma fluida e invisível. O smartwatch, nesse sentido, representa uma tecnologia de si: um dispositivo de autodisciplina, onde o próprio sujeito é incentivado a se vigiar, se controlar e se otimizar constantemente.

Mais do que uma ferramenta, o smartwatch passa a ser um marcador de identidade. Quem o utiliza, comunica ao mundo um estilo de vida conectado, produtivo e, muitas vezes, autoexigente. Esse corpo vigiado, quantificado e regulado se alinha com os valores neoliberais de autonomia e desempenho — mas esconde, por trás da autonomia, uma dependência da validação algorítmica.

Essa nova sociabilidade digital nos faz refletir sobre os limites entre liberdade e controle. Será que, ao monitorar nossos corpos com tanta precisão, estamos nos conhecendo melhor — ou apenas entregando nossa intimidade ao mercado de dados? A sociedade contemporânea parece ter se esquecido de que o tempo é, antes de tudo, uma construção coletiva, e não apenas uma linha reta de metas individuais.

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